Sócrates tem motivos para estar aborrecido. O PM contava com o PSD e o CDS, os quais com os ilusionistas argumentos "o orçamento é mau mas aprova-se", "merece censura, mas não moção", até à data não desligaram a máquina que prolonga a vida do governo. E contava com a magnânime cooperação estratégica de Belém que apoiou todas as suas políticas económicas.
Agora, o Presidente malha no executivo. Também tu, Brutus? São Bento chora com razão! Afinal, Cavaco fala dos "limites dos sacrifícios", do "sobressalto cívico", quando antes aplaudiu cortes e golpes socráticos. Para não mencionar que, enquanto primeiro-ministro, cremou gordos fundos europeus e sovou manifestações. Arrependido? Já Passos Coelho tanto faz eco desses limites como propõe menos direitos e menos Estado.
É legítima a indignação de Sócrates. Não se pode ignorar a crise internacional no diagnóstico. O problema é que também não se pode, simultaneamente, tomar medidas que só a agravam (às quais acresce o novo PEC) ou ir às cimeiras bater continência a Merkel e às suas políticas anti-europeias. Sócrates tem motivos para estar furioso. Logo, melhor e mais do que ninguém, deve sentir na pele e perceber debaixo dela que os portugueses têm razões de sobra para estarem fartos. Inclusivamente dele próprio.
In Correio da Manhã online
12 Mar 2011
Por: Joana Amaral Dias, Docente Universitário (pensaalto@gmail.com)
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